quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Sobre ser livre ou Sobre estar sempre psicografando

Originalmente escrito em 11/01/2011

Hoje, dia 11 de janeiro, é aniversário de um dos caras mais sensacionais que eu já tive a oportunidade de ler. Sérgio Porto completaria 88 nesta terça-feira, se ainda tivéssemos a honra de tê-lo entre nós. Devidamente datados, vamos ao que interessa um pouco menos: Aquilo que vim contar-lhes hoje. Não há ocasião mais propícia para tal do que o aniversário do recém citado cronista, dono de uma narrativa extremamente descontraída, bem-humorada e, principalmente, Livre. Porto escrevia como lhe vinha às mãos, como queria e da melhor forma que traduzisse o seu desejo.

Exatamente para falar sobre isso que venho até aqui. Normalmente, esse blog serve para reclamar dos problemas da sociedade atual, visto que é nesta que vivo. Apenas dela posso me queixar, podendo às vezes, sem o propósito, parecer um pouco dessa galera moderninha que gosta de coisas antigas e está na comunidade do Orkut “nasci na época errada”. Porém, dessa vez venho chorar um causo antiguíssimo, a carta de Pero Vaz de Caminha já era antiga quando esse problema surgiu. Lá na época da Grécia Antiga, a moda era ser inteligente. Quando mais massa encefálica, mais atraente o sujeito era para as gatas e possivelmente daí tenha surgido essa triste mania que escritor tem de complicar a sua prosa, obviamente com suas belas exceções, como o já citado Porto, Vinicius de Moraes, entre outros a quem não pestanejo em chamar de gênios. O fato é que poder de síntese é um dom e, como toda raridade, não é todo mundo que possui. Não é todo mundo que sai por aí com diamantes no pescoço. Não é todo mundo que sai por aí simplificando sentimentos. Veja bem: Não estou dizendo que não nascer com a capacidade de ser um Vinicius é algo fatal. Muito pelo contrário, existem seres normais perfeitamente admiráveis, como é o meu caso. O meu problema é com outra raça: A dos que pagam de gênios.

É espantoso o fato de que alguns escritores renomados (alô, PC) tendam a andar pelo sombrio caminho das palavras difíceis, fazendo com que seus textos se tornem até meio bonitos, porém sem a menor graça. É como diz meu amigo Vicentinho: Não adianta ser bonita, tem que ter harmonia. Por favor, não pensem que não gosto de textos complicados de serem lidos, o meu problema é com aqueles que, mesmo com a possibilidade de serem simples, são complicados por algum vilão. Essa raça a qual me refiro acredita que um texto só é belo se for indecifrável, quando, na verdade, meus queridos, cês tão fazendo tudo, tudo errado. Vou ensinar pra vocês, jovens padawans: É como no Cinema. Existem filmes sem diálogos que querem passar uma mensagem pelas expressões dos atores carregadas pelos sentimentos de uma vida sofrida e também tem Woody Allen. Os dois falam de fracassados, mas o segundo certamente será mais feliz em seus resultados porque conseguiu passar a sua mensagem com mais simplicidade. Literatura, assim como qualquer outra arte, é isso: Passar mensagem. Esta é a alma das frases. No fundo, todo texto é psicografado. A diferença é que alguns são feitos pela alma própria do escritor. Esta, sem ter mãos, utiliza-se das pertencentes ao corpo.

De nada adianta um texto se não for feito por aquele que está escrevendo. Libertem-se, abram suas janelas, não sejam prisioneiros nem de vocês mesmos, jovens. Escrevam do jeito que vier à cabeça, sejam uns idiotas, porque todo mundo é idiota e precisa se identificar com as idiotices dos outros.

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