Não deu pra ir naquele Brapel em que
o Brasil tomou 3. Altas treta, mas o que dá pra dizer é que não deu. Resolvi
escutar pelo rádio, azar, torcedor de verdade torce até pelo radinho, não tem
essa de que só torce de verdade quem vai pro estádio. Tá, liguei na U U U PAU
NO CU DA RU quando cheguei em casa, já tinha um tempo de jogo. Aí o Pelotas fez
um gol. Sei lá, acho que foi aquele Bruno Coutinho.
PAUSA NO TEXTO PARA CONTAR O QUÃO
SUPERSTICIOSO EU SOU.
Pra vocês terem uma ideia, teve
uma época em que eu proibi o meu pai de acompanhar os jogos do Brasil. Não, não
é proibir de ir no estádio. Também não é de ir no estádio e ver na TV. Nem no
rádio eu deixava. Inclusive teve uma vez em que eu escondi o radinho dele e o
coitado só vai ficar sabendo disso nesse momento. Acho que se possível eu
deixaria meu pai recluso em uma masmorra durante as partidas. Antes que vocês
me julguem, devem saber que eu tô coberto de razão. Cobertíssimo. Meu pai não
ia no estádio há tempos e voltou naquele jogo contra o América de Minas. No
jogo contra o Juventude pela Copinha do ano passado, o Brasil tava ganhando de
1 a 0, ele chegou em casa e o Ju empatou. Ele saiu pra levar os cachorros lá
embaixo e o Brasil botou uma bola na trave. Ele voltou e o time de Caxias fez o
segundo. No jogo da Segundona esse ano em que o Xavante só precisava do 0 a 0
contra o Riograndense, ele inventou de me ligar e o Cirilo fez um pênalti. A
coisa é nesse nível. E não é só com o Brasil. Todo e qualquer time que ele
venha a torcer é automaticamente infestado pela urucubaca. Torceu pro Grêmio
naquele jogo contra
o Juventude na Arena. O bagulho é seríssimo e
eu realmente fico puto quando ele descumpre as minhas recomendações.
Mas não é só no futebol. Eu não
passo embaixo de escada, por exemplo. Eu sempre tento encostar o pé direito
primeiro do que o esquerdo quando eu acordo. Se eu vejo que encostei o esquerdo
primeiro é uma tristeza. Também sempre acho que há uma conspiração contra mim
em curso. Tá, mas esse texto não é sobre isso.
FIM DA PAUSA NO TEXTO PRA CONTAR O
QUÃO SUPERSTICIOSO EU SOU.
O que aconteceu foi que eu ouvi o
jogo inteiro pelo rádio e comecei a achar que, então, a justificativa estava
toda aí. Desculpa de torcedor fanático ou não, pra mim tinha sido esse o
problema. Aí chegou o dia do Brapel de ontem, o segundo da final do segundo
turno da Sul-Fronteira. E eu de novo não pude ir. Altas treta, mas o que dá pra
dizer é que não deu. Então pensei comigo mesmo: “Fudeu”. Se eu não acompanhar o
jogo, morro. Se ouvir pelo rádio, morremos eu e o Brasil. Foi aí que me veio a
melhor ideia de todos os tempos. Uma ideia que vai revolucionar o mundo das pessoas
paranoicas com bobagens. Uma ideia que veio para acabar com a superstição. Uma
ideia que veio para fazer com que meu pai possa voltar a acompanhar os jogos do
Brasil.
Para os que não sabem, eu moro
relativamente perto da Baixada e dá pra ouvir os gritos da torcida nitidamente
daqui. Tá, isso não é muito difícil, tem um amigo meu que mora do lado de lá da
Bento e disse que escuta a do Brasil e a do Pelotas não. Mas enfim, o fato é
que daqui eu escuto. Pensei comigo mesmo: Vou acompanhar essa birosca pelos
gritos das duas torcidas. E foi o que eu fiz. Desliguei tudo o que poderia
fazer som na casa, deixando somente o computador ligado. Abri a janela do
quarto, a mais perto do estádio em todo o apartamento. Mano, que vento do cão
que tem feito nos últimos dias. E sabe que na minha janela é pior? Não sei o
que acontece, parece que canaliza o vento, sei lá. Tá, deixei a janela aberta
muito embora o vento estivesse mais forte do que Nescau 2.0. Com o decorrer do
jogo fui identificando quais barulhos vinham da torcida do Brasil e quais da
torcida do Pelotas. Gritos mais altos do Brasil, as batidas das duas charangas,
essas coisas. Aí começou a apreensão. Se acontece do Pelotas fazer um gol, eu
não sei o que faço. Não dá pra ir no jogo, não dá pra ouvir pelo rádio, não dá
pra acompanhar pelos gritos. Como que eu ia fazer a partir dali? Não daria pra
continuar vivendo caso o Pelotas fizesse um gol.
Aí Deus mandou um salvador. Um
homem com a missão de trazer a paz ao mundo através de gols. Amigos, o
nervosismo estava grande. A cada barulho mais fraco porém feliz e contínuo eu
achava que já tinha se ido a carroça com os boi tudo. Mas de repente um
estouro. Gritos fortes, contínuos e seguidos de um “ÔÔÔÔ TOMAR NO CU LOBÔÔÔ”.
Era gol do Brasil. Só poderia ser. E havia sido. Joelson abrira o placar. Que
felicidade. Tomar no cu, Lobô.
Segui atento aos gritos, agora praticamente
concentrados nos de origem xavante. Daí lembrei que tinha marcado de às 22:30
dar uma banda com o Pedrinho, meu amigo que não gosta de futebol e foi
engraçado que ele nem sabia da existência de um Brapel quando me chamou. Segue
o diálogo:
Leon Sanguiné
fui lá levar um
pendrive pra bia
vamo sim
que horas?

Pedro San
Martin
umas dez?
pode ser?
5/11/2013
20:35
Leon Sanguiné
dez e meia então
que aí dá tempo de acabar o brapel raiuohasui
mas pode chegar qualquer hora, na verdade

Pedro San
Martin
aheahahe
blz
mais tarde passo ai então
mas vou umas dez e meia mesmo
fica melhor pra mim também
Nisso já eram umas 22h e eu nem tinha tomado banho
ainda. E, acreditem, eu precisava de um banho. Qual a solução, então? Com o
barulho do chuveiro não vai dar pra ouvir os gritos. Foda-se a saúde. Abri a
janela do banheiro. O vento. Eu molhado. Começou a tosse. E aí veio um segundo
grito mais alto. ÔÔÔ TOMAR NO CU, LOBÔÔÔ. Amigos, eu tava ensaboado, mas pulei
dentro do box. E gritei na janela, provavelmente com xampu na cabeça. Tomar no
cu, Lobô.
Eu juro que não demoro muito no banho. Não
necessariamente por questões ambientais, é só que eu não vejo muito o que fazer
lá dentro mesmo (e nesse caso havia uma janela aberta com bastante vento vindo
direto em minhas costas molhadas e totalmente propícias a resfriados), mas deu
tempo de ouvir outro grito contínuo. Era certamente outro gol, ou quem sabe um
pênalti. Parecia mais baixo, mas eu me recusava a acreditar que era gol do
Pelotas. Talvez o barulho do chuveiro esteja confundindo um pouco. Nem me
vesti. Me sequei mal e porcamente e fui direto pro computador pra ver o que
tinha acontecido. De fato havia sido gol áureo-cerúleo.
Aí, meu amigo.
Aí foi teste pra cardíaco.
Qualquer barulhinho mais contínuo eu achava que era
gol de empate do Pelotas. E eu não conseguiria viver num mundo onde o Pelotas
ganharia um título no Bento Freitas.
Aí o Pedro chegou, e achou um saco ficar esperando
o jogo acabar sem nem poder conversar pra passar o tempo, já que eu não tava
nem aí pro amigo, queria saber era do jogo mesmo.
Sem exagero, eu devo ter achado ser gol do Pelotas
umas vinte vezes. E cada vez que a charanga deles se sobressaía à nossa eu já
achava que era lance de perigo. Até que eu ouvi um longo, forte e derradeiro
grito. Era o fim de jogo. Era a vitória do Brasil. Era a garantia de que semana
que vem tem mais.
Puta que pariu, semana que vem eu não tô em
Pelotas.
Concluindo: eu não aconselho pra ninguém essa experiência.
Só em casos realmente extremos, como foi esse meu. É a pior forma de acompanhar
um jogo de futebol desde sempre, sem a menor sombra de dúvidas.
Ah, e o meu pai não acompanhou o jogo.
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