domingo, 30 de março de 2014

Sobre Nirvana e How I Met Your Mother



Estou escrevendo para o jornal um texto sobre o fim de How I Met Your Mother (e já ia colocar o nome da série em itálico pela força do hábito, é o jornalismo começando a ganhar da literatura, talvez). É um texto – ainda inacabado, então pode mudar muito – ironicamente melancólico, mas com toda a verdade que só uma brincadeira tem.
É tudo muito apocalíptico ali, e parece meio besta tratar o fim de um produto audiovisual desta forma, mas faz parte daquela besteira nossa de cada dia totalmente necessária para que a vida faça sentido. E acho besta mesmo as pessoas reclamarem de pessoas que reclamam do fim de seriados. Não por eu pertencer a este último grupo, mas por simplesmente achar ridículo as pessoas considerarem que apenas aquilo que consideram importante faz parte do conjunto de coisas a que o mundo deve seu inexistente equilíbrio. Mas aí eu já estou falando de The Big Bang Theory (e coloquei em itálico de novo, sério, eu preciso parar com isso) e isso tudo daria outro texto que posso fazer em outro momento sem problemas.
Do que eu tava falando mesmo? Ah tá. Enfim, eu resolvi usar como trilha sonora para a construção daquele texto (e também desse) o Nevermind do Nirvana (hesitei um pouco menos sobre o itálico dessa vez). Por dois principais motivos: Primeiro porque Nirvana é do caralho. Segundo porque a banda de Kurt Cobain tem uma urgência em cada riff (merda, já coloquei o itálico de novo), em cada segundo da voz. É tudo arrastado até gastar como se o mundo fosse acabar no próximo instante. A minha música predileta desse disco, pelo menos hoje, é Lounge Act (sério, alguém trava a opção do itálico nesse computador PELO AMOR DE DEUS) e ela é um ótimo exemplo disso. Cobain diz tudo o que precisa ali em um minuto, mas repete a melodia de novo como quem diz “isso está tão bom, me faz tão estranhamente bem, não consigo entender essa sensação, mas o mundo está acabando, não tenho tempo para pensar, quem sabe se repetir rapidinho pode dar”.
É mais ou menos assim que eu estou lidando com o fim de How I Met Your Mother e é mais ou menos assim que a série me toca. Citei na matéria para o jornal O Amor Acaba, texto sublime de um dos meus grandes mestres da escrita, Paulo Mendes Campos. O amor acaba mesmo, tudo acaba. As pessoas vão morrer. A sua vontade de ter filhos vai ser interrompida de um segundo para outro porque você é estéril. A pessoa com quem você há dez anos mantém o mais estável dos relacionamentos vai resolver mudar de cidade e de corte de cabelo. Aquela sua fase despreocupada, mas que você sempre precisou usar uma armadura para não encarar a realidade vai acabar quando o amor, que um dia vai acabar, lhe arrebatar. A sua série predileta, após nove anos, vai chegar a seu final.
Best night ever
E tem que chegar. A morte é, provavelmente, o elemento mais importante de equilíbrio no mundo. Imagine se ninguém morresse. Não teria espaço para todo mundo. Não teria comida para todo mundo. O Natal em família seria péssimo. O mundo seria insustentável sem a morte. Pense comigo aqui com nossos botões. Se Friends (itálico maldito!!), House, Gilmore Girls, Pushing Daisies (essa morreu cedo demais) e The OC não tivessem morrido, quantas séries você teria de administrar para ver ao mesmo tempo? Eu contei dez de cabeça só das que acabaram. Contanto com as que ainda estão sendo produzidas (conto How I Met Your Mother aqui), passaria de quinze. Fora aquelas de mesmos produtores. Se The OC não tivesse morrido, Chuck seria produzida? Nunca.
O desapego também é extremamente importante. É necessário abandonar algumas séries pelo caminho, para que outras possam tomar o espaço. Eu vi três episódios de Glee. Achei muito ruim, odeio musicais, não sei como as pessoas conseguem parar o que estão fazendo e simplesmente começarem a cantar. Abandonei The Mentalist tem um ano e meio, mais ou menos (vi as duas primeiras temporadas). Isso contribuiu para que eu tivesse tempo para começar a ver, à época, Lie to Me e Community, hoje duas das minhas séries prediletas de todos os tempos.
Por fim, amigos fãs de How I Met Your Mother, é preciso lidar com a morte do jeito que a série nos ensinou. É claro que o nascimento de um filho não vai substituir o falecimento totalmente inesperado de um pai. Não é nem mesmo esse o objetivo. Cada série toca de um jeito e tem um objetivo diferente. Não vejo Bates Motel pelos mesmos efeitos que me causa 30 Rock. Mas o luto passa. E, enquanto o fim do mundo não chega, arraste até gastar. Gaste tudo o que How I Met Your Mother tem para lhe oferecer. 

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